Concurso público e saúde mental: por que sua vida não pode ficar em pausa

Estudar para um concurso público pode parecer, à primeira vista, um caminho sólido, estratégico e até mesmo seguro. Afinal, quem não quer estabilidade, reconhecimento e um futuro minimamente previsível?

No entanto, ao longo dos atendimentos clínicos e das conversas que tenho com estudantes e concurseiros, percebo um padrão que se repete: quanto mais a aprovação vira o único objetivo, mais a vida real vai sendo suspensa. E isso tem um custo alto.

O ideal de aprovação que paralisa a vida

Muita gente entra nesse mundo dos concursos com um plano claro: “Vou estudar por dois anos, passar, e depois retomar minha vida.” Parece lógico, não é? Mas o tempo vai passando, os prazos vão escorregando e, sem perceber, a pessoa se vê presa em uma rotina que suga vitalidade e sentido.

Não se trata apenas de estudar muito. Trata-se de colocar tudo em pausa: os vínculos, os afetos, o lazer, o corpo. A vida vai sendo adiada, como se o “eu verdadeiro” só fosse aparecer quando o nome estiver no Diário Oficial.

O problema é que essa promessa do futuro idealizado começa a se tornar uma prisão.

O custo invisível de viver só para estudar

Nessa rotina intensa, o descanso vira culpa. A pausa vira ameaça. O dia em que não se rende o suficiente vira um campo minado de autocrítica.

Além disso, muitas vezes a pessoa começa a perder o contato com quem era. O hobby que antes trazia prazer agora é visto como perda de tempo. A conversa com amigos vira distração. E quando tudo gira em torno de uma única coisa, qualquer tropeço pode parecer um fracasso total.

E se a aprovação não vier?
Mas se resultado não for o esperado?
Quem eu sou além do concurso?

São perguntas que emergem com força, especialmente quando a saúde mental já está fragilizada.

Pessoa estudando para concurso público

Não é sobre desistir, é sobre viver enquanto se prepara

Claro que ter um objetivo é importante. Estudar com disciplina pode ser algo admirável. Mas é preciso lembrar que a vida não pode ser totalmente colocada em espera.

É possível e necessário, encontrar formas de viver enquanto se estuda. Isso inclui:

  • Estabelecer pausas reais e sem culpa
  • Cultivar vínculos que nutram, não só “cobrem presença”
  • Reconhecer os próprios limites, sem confundi-los com fraqueza
  • Permitir-se pequenos prazeres que sustentem o processo
  • Buscar suporte emocional quando o peso estiver demais

Porque o que sustenta o caminho não é apenas a meta, também é a forma como você caminha.

Quando é hora de pedir ajuda

Se você está se sentindo esgotado, desconectado de si mesmo ou vivendo um ciclo de autocrítica que nunca dá trégua, talvez seja o momento de olhar com mais cuidado para isso.

A saúde mental não é um luxo. É uma base. E cuidar dela durante esse processo pode, inclusive, te tornar mais lúcido, mais inteiro e mais preparado para o que vier, seja a aprovação, seja uma mudança de rota.

Se precisar de apoio, saiba que há profissionais preparados para te acolher nesse momento. O cuidado é possível. E a vida não precisa esperar para ser vivida.

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