Narcisismo: mito de Narciso, ferida psíquica e amor
O mito de Narciso e sua atualidade
A gente escuta sobre narcisismo na novela ou assiste o influencer explicando como se livrar de um narcisista, como se fosse parecido a se proteger de um vampiro colocando alho atrás da porta.
No entanto, narcisismo é um termo muito mais profundo e de certa forma, interessante.
Podemos pensar no narcisismo como uma casca muito grossa, escondendo do outro aquilo que o próprio narcisista nunca viu, o si-mesmo.
A profecia e o destino de Narciso
No mito, a profecia dizia que Narciso viveria até o dia em que se conhecesse de verdade. Ou seja, não é curioso ou paradoxal que a pessoa que exala e transborda de si mesma na verdade não conheça nada de si mesma?
Se é o Outro que me vê e é pelo Outro que tenho a garantia de que sou, como o narcisista poderia saber quem se é? Justamente para o narcisista, que não vê o Outro como detentor de um Eu.
Narcisismo além da novela e dos influencers
Assim, vem a mídia esfregando o vilão da novela como manipulador e mais perverso do que narcisista e também escorrem pelos feeds, os influenciadores com 5 dicas de como se proteger dos “narcisistas”.
Mas não explicam sobre a ferida narcísica. Aquela ferida escondida de si-mesmo, tão oculta que é a primeira coisa que se nota no narcisista, quase escorre pelos próprios olhos.
A ferida narcísica
Mas como então alguém com tamanha ferida exala tanto brilho? Ora! A lua também brilha mesmo sem luz (e é linda!). O brilho de narciso é alimentado por uma ‘libido’ da mãe (ou figura que faça este papel) que investe todas as suas energias na pele do próprio filho (filhas também, ok?).
A mãe olha a criança, se vê, se confunde, se funde e diz: espelho – espelho meu: existe algum filho mais narciso do que o meu?
Assim a criança vai ao mundo com toda a coragem e ambição possíveis, pois o verbo da mãe se fez carne. Vai conquistando, seduzindo, brilhando e…. magoando (Sim, não perceber o Eu do Outro magoa muito).
Vai vencendo tudo até que a profecia se cumpre: Ao Conhecer a si-mesmo, o narcisista “morre”. A morte do narcisista pode ser entendida como a perda da grossa camada que o esconde de tudo e de si.
A ferida narcísica pode ser vista, falada e mostrada ao Outro, mas desde que o narcisista saiba que o Outro é também um Eu e sendo o Outro um Eu, tem necessidades, desejos, medos e não está aqui para servi-lo. O amor, segundo Jaremy Holmes, é a solução para o Narcisismo.
Narciso, no mito, apaixona-se pela própria imagem e sucumbi à morte tentando beijar-se, tentando amar-se. Mas impossível amar a si-mesmo sem antes amar o outro (Jesus Cristo ensinou muito sobre amor ao próximo).
A transformação do narcisismo
Sendo assim, ao morrer à beira do lago onde se conheceu, Narciso torna-se uma bela flor, a Flor Narciso. Não conhece o mito? Pode clicar aqui e saber mais sobre ele.
“Para que a psique sobreviva, é preciso superar o narcisismo. Ao aceitar a efemeridade e a mortalidade, o ser humano pode ser transformado — a autoestima se torna assegurada e a beleza interior se revela. Do contrário, permanece condenado a viver na ilusão, ou mesmo a morrer, talvez por suas próprias mãos.” (Jeremy Holmes, Livro Conceitos da Psicanálise – Narcisismo)
